Grupo: Dust Dive, The
Título: Asleep Or Awake Walk
Ano: 2005
Editora: Own
Formato: CD
Os Dust Dive são um trio norte-americano que reside em Brooklyn, mas exala um forte odor campestre que chega das redondezas da sua Olathe natal, situada no estado de Kansas. Bryan Zimmerman, o principal impulsionador do projecto, é um fotógrafo naturista que se dedica criativamente a eternizar em imagens formas alternativas de geografia humana, uso da terra ou de contacto com a natureza, que são normalmente pouco sujeitas a exposição pública ou mediática, como é o caso da Reserva Apache de White Mountain, no Arizona. Laura Ortman é uma índia Apache que desde cedo se dedicou à música, com especial afecto pelo violino, piano e guitarra, e que emprega normalmente o seu talento acompanhando coreógrafos e bailarinos. Ken Switzer é um escritor e performer que ajudou o casal Zimmerman / Ortman a materializar em disco todo um conjunto de contemplações e emoções induzidas pelas suas paixões etnográficas e ambientais.
«Asleep Or Awake Walk» é um álbum de indie-folk delicado, onde impera muitas vezes o sussurro e uma límpida brisa matinal. É o som das flores que se abrem ao nascer do sol para beijarem a neblina crepuscular, que induz estados de espírito pacificadores mas que impede que se vislumbre algo mais do que contornos difusos e anula a efusividade cromática da natureza. É uma banda sonora terna e aconchegante para os momentos em que o sonho se imiscui no acordar e a preguiça enebria os sentidos, depois de uma noite ao relento a declamar poesia, entre o crepitar de uma fogueira, o cintilar distante das estrelas, o abraço da pessoa amada e as silhuetas assombrosas dos ramos das árvores. Manhãs em que se retarda o domínio dos próprios actos e se prolonga solitariamente o penoso contacto com a realidade.
Os Dust Dive propõem-nos um território romântico dominado pelo catálogo emocional de Zimmerman, despudoradamente escancarado pela sua voz monocromática e propositadamente distante, enquanto o violino e guitarra de Ortman desmaterializam as texturas abstractas entrelaçadas pelo orgão de Switzer, fazendo de cada tema uma longa e pacificada contemplação da beleza. Ocasionalmente o acordeão e as gravações de campo adicionam variedade, contribuindo para que nem por sombras o aborrecimento se instale e para um aumento de intensidade narrativa.
Enquanto depura emoções ao longo do disco, Zimmerman faz questão de colocar os ouvintes suficientemente afastados da sua intimidade, conjugando a sua interioridade com um sentimento profundo de desconforto e desconfiança, pelo que a sedução desta música está apenas destinada à montra da contemplação e não à sua apoderação ou partilha. Como se pudéssemos espreitar demoradamente a sua janela emocional mas não nos fosse dada a chave da porta, através da qual acederíamos sem reservas ao seu domínio sensitivo.
Por propor uma abordagem quase impessoal a um espaço musical que normalmente compele à apropriação pública, trocando a lógica confessional de um género que tem seduzido pela cumplicidade que consegue fazer fervilhar entre autor e ouvinte, mas também pela limpidez e fragilidade musical que consegue fazer eclodir a partir de sentimentos em contra-mão, «Asleep Or Awake Walk» é um disco que se impõe saborear longamente e com todo o prazer!
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