Grupo: Klara Lewis
Título: Too
Ano: 2016
Editora: Mego
Formato: Digital
Não é necessariamente uma coisa de
genes, mas é impossível não suspeitar
que o aventureirismo sónico revelado por Klara Lewis
esteja directamente relacionado com o facto de ser filha de Graham
Lewis, um dos grandes pioneiros da expansão da
música punk para territórios virgem, de maior ou
menor aridez, tanto na sua carreira a solo como fazendo parte dos
incontornáveis Wire.
Mas Klara faz questão de
traçar o seu próprio percurso, não se
aproximando formalmente das coordenadas musicais do seu progenitor. E
avança na criação musical sulcando na
rocha as suas visões muito particulares daquilo em que as
gravações de campo se podem transformar se forem
intensivamente processadas. É assim que ganham por suas
mãos uma espécie de violência
intrínseca, nunca revelada expressamente, antes
frequentemente dissimuladad, mas que é percebida enquanto
forte tensão emocional, a qualquer momento capaz de
transformar a ameaça em realidade e encontrar um ponto de
fuga ou explosão.
Neste segundo longa-duração, intitulado «Too»,
este percurso por um campo minado faz-se usando uma apertada camisa de
forças, indo ao encontro de esculturas musicais multiformes,
nunca angulares, que parecem adquirir vida própria, como um
organismo elástico que consegue espalhar-se surrateiramente
por entre os objectos circundantes. Neste deambular abstracto, desenha
rastos quase imperceptíveis ao longo do seu percurso, mas
vai deixando pontos de referência sonoros que servem para
reconstruir a geografia sónica de um lugar único,
em que tanto o mecanicismo digital como a fluidez orgânica
parecem encontrar um berço de acolhimento natural.
Com «Too»,
Klara Lewis consegue erigir um disco fascinante,
raramente definindo formas de um modo concreto e constantemente
deixando amplo espaço à audacidade e à
liberdade de interpretação, pelo que é
um trabalho relativamente ao qual é muito difícil
ficar indiferente.
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