Grupo: Animal Collective
Título: Feels
Ano: 2005
Editora: Fat Cat
Formato: CD
Obs: Distribuído por Flur
É surpreendente a forma como com «Feels»,
os Animal Collective superaram todas as expectativas - legitimamente
elevadas - depois do potencialmente inigualável «Sung Tongs»,
do ano passado. A um objectivo difícil, o quarteto de Brooklyn respondeu
com um disco absolutamente refrescante e efusivo, rodeado de um encantador entusiasmo
juvenil (N.R. a descrição que o grupo faz de si próprio
é esclarecedora: «Animal Collective are four friends who like
to get together to play music and watch movies and play football»)
que se ajusta na perfeição a uma carreira sempre em crescendo
e invariavelmente capaz de subverter e ampliar a sua própria - e singular
- concepção de canção e de renovar o seu aguçado
espírito de exploração pop.
Desde as primeiras audições que é possível perceber que «Feels»
expande a concepção ritmico-melódica de «Sung
Tongs», baseada em combinações impensáveis de
harmonias vocais esfuziantes e celebratórias com instrumentação
acústica, mas processadas por um conceito quase dadaísta de destruição/construção,
o que, desde logo, os afasta de qualquer equação conhecida. Esta
expansão é feita num espaço ainda mais amplo de liberdade
criativa, em que tudo é matéria-prima para a elaboração
de experiências de interpenetrações melódicas, rítmicas
e estruturais, e que agora abandona a circunscrição orgânica
para se deixar minar por focos infecciosos de electricidade. Um enorme contentor
sonoro de onde são vertidas canções decididamente pop,
mas com um toque quase nonsense, tal a falta de referências de
comparação e a estranheza singular das sequências modulares
internas. Existe uma narrativa contida, mas sem que nos sintamos, à partida,
familiarizados com ela, tal a frescura e novidade de ideias e a constante mutação
referencial.
«Feels» integra-se na perfeição
no universo da música popular, sendo que a sua universalidade ganha sentido
total na enorme riqueza da palete de instrumentos utilizada e na constante citação
de lugares musicais que habitam na nossa memória, mas cuja identificação
exacta nos escapa por completo, tal a naturalidade e espontaneidade com que
surgem a cada vertiginosa mutação. Esta forma de observação
entusiasmada do mundo e sua tradução em disco adquire uma urgência
notável e reveste-se de uma alegria contagiante, que nos atinge com um
bang! É a vida que é celebrada, de um modo eufórico
e quase tribal, cumprindo um ritual social que há muito a música
não era capaz de preencher, mas que aqui é o corpo e o sangue
que alimentam a entrega emocional e transcendente de um conjunto de canções
que nos toma por inteiro e que poderá dar um sentido comunitário
à reunião de quem por ela se deixar envolver, com a certeza de
que se trata de algo muito especial.
Ao sétimo álbum de originais, os Animal Collective
voltam a desafiar a classificação da sua própria música,
forçando em definitivo a criação de um léxico personalizado
que seja capaz de traduzir na íntegra a riqueza, sedução,
variedade, jovialidade e espírito exploratório das suas cambiantes
expressões sonoras. Aceitam-se propostas...
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